quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Com proximidade da Copa, Comitê Popular segue mobilizado contra remoções em Porto Alegre

Por Ramiro Furquim/Sul21
Em bairros como Santa Tereza, Cristal e Vila Cruzeiro, centenas de famílias de Porto Alegre passam por remoções e despejos | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller/ Portal Sul 21
Quatro anos antes do início da Copa do Mundo, mobilizações populares já se organizavam em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Fortaleza, três das sedes do Mundial. Em distintas capitais, militantes de movimentos sociais e entidades ligadas aos direitos humanos, além de partidos políticos, contestavam as remoções, a criminalização e a repressão de moradores das áreas atingidas. A oito meses do início da competição, muitos resistem para garantir direitos básicos.
Em Porto Alegre, o Comitê Popular da Copa direcionou, desde o início, os seus esforços para a Zona Sul da cidade. Em Santa Tereza, no Cristal e na Vila Cruzeiro, centenas de famílias enfrentaram o problema das remoções e dos despejos, e muitos tiveram que deixar as casas que habitavam, alguns há décadas. José Fachel Araujo, 74 anos, vive há quarenta na Rua Cruzeiro do Sul – e como teve parte do seu terreno marcado pelo processo de duplicação da via, ainda não sabe de que maneira e até quando permanecerá no bairro.
Zé, como é conhecido na região, integra o Comitê Popular e afirma que os moradores não são contra a duplicação da Avenida Tronco, obra que irá transformar a geografia do bairro. Diz, no entanto, que o desejo da população das áreas atingidas é “garantir a permanência nas proximidades e ter a certeza de uma nova moradia”. Segundo Cláudia Favaro, arquiteta e militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Comitê calcula que as remoções em Porto Alegre envolvam, neste momento, cerca de oito mil pessoas – ainda que nem todas diretamente ligadas ao Mundial de futebol.
A arquiteta afirma que “todas as esferas institucionais foram percorridas” para denunciar as violações aos direitos humanos presentes nos processos de despejo. Já em 2010 foi realizada a primeira denúncia para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, analisada pela ministra Maria do Rosário. A Articulação Nacional dos Comitês Populares (Ancop), que reúne as forças municipais, chegou a levar a situação à Organização das Nações Unidas mais de uma vez.
 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Zé e Cláudia, militantes do Comitê Popular da Copa, denunciam violações de direitos humanos durante obras na capital gaúcha | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Eles quebram algumas casas da rua, deixam outras sem água e sem luz, até que seja impossível permanecer”
O Comitê Popular da Copa defende a ideia do “chave-por-chave” como resistência às remoções. A estratégia é cobrar da Prefeitura de Porto Alegre a garantia imediata de uma nova casa para as famílias que terão as suas derrubadas, e não aderir ao aluguel social, que hoje está em R$ 500,00 por família. “Até que os apartamentos do Minha Casa, Minha Vida estejam construídos, quem optou pelo aluguel social fica sem ter para onde ir, com os pés na rua”, afirma Cláudia.
José Fachel conta que os 500 bônus moradia – no valor de R$ 52 mil – disponibilizados pela Prefeitura para os moradores removidos já foram esgotados. “Este valor é pequeno, não serve para comprar uma residência nos bairros da região. Aliás, não serve para quase nenhum lugar de Porto Alegre. Há muita gente indo para outras cidades ou para o litoral”, conta.
Cláudia também problematiza a migração de moradores da Vila Cruzeiro: “quem está indo para o litoral, por exemplo, sem qualquer garantia de emprego e renda, pode estar voltando em breve, sem ter onde morar em Porto Alegre. É muito difícil conseguir trabalho o ano inteiro por lá”. Os dois integrantes do Comitê Popular admitem que a resistência na Zona Sul fica mais complicada no momento em que a chegada da Copa do Mundo e a aceleração das obras se aproximam.
O método utilizado pela Prefeitura na retirada das famílias é questionado pelo Comitê. Segundo José, as máquinas do poder municipal acabam derrubando algumas casas por quadra, deixando as demais residências, por vezes de moradores que têm a situação indefinida, sem água ou luz. “Eles (os funcionários da Prefeitura) quebram algumas casas da rua, deixam outras por dias sem água, sem condições de se manter ali, de resistir”, relata.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Integrantes do Comitê apostam que as mobilizações populares ressurgirão com força em 2014 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Não queremos que os moradores fiquem expostos a riscos, apenas que as remoções aconteçam de forma mais digna”
No início de julho, poucos dias após as grandes manifestações que reuniram quase vinte mil pessoas no Centro de Porto Alegre, as ruas da Vila Cruzeiro e do Cristal também foram cenário de um protesto. Naquela noite, muitos dos moradores observavam a movimentação parados nas calçadas, mas ao passo em que a marcha seguia, se juntavam à caminhada. “A manifestação serviu muito para ampliar a mobilização, dar confiança aos moradores, mas não pôde impedir a continuidade deste processo”, lamenta Cláudia Favaro.
A duplicação da Avenida Tronco não deve ser finalizada até o início do Mundial, em junho de 2014. A Prefeitura de Porto Alegre privilegia as modificações próximas ao Estádio Beira-Rio, que sediará as partidas na cidade, e busca assegurar os recursos federais para que obras como a da Vila Cruzeiro se mantenham em andamento após a Copa. Para tanto, o Executivo municipal adéqua os financiamentos ao PAC Mobilidade, que mantém o financiamento mesmo após o encerramento da competição.
Os integrantes do Comitê Popular de Porto Alegre apostam que as mobilizações reapareçam com a mesma força no ano que vem. “Nós, como diversos movimentos, fizemos análises de conjuntura, e penso que este é um momento de ascenso. Com altos e baixos, claro, mas que pode crescer muito no ano da Copa e mais adiante, com as Olimpíadas”, conta Cláudia, que se mostra preocupada com o impacto do evento na Zona Sul da cidade.
“Como vai ficar Santa Tereza em 2014? O Exército vai mesmo ocupar o morro, criar uma zona de exceção?”, questiona. Para a arquiteta, o Mundial pode ser uma desilusão para muitos moradores do bairro. “Quem mora perto do Beira-Rio, em Santa Tereza, e pensa que vai poder vender cerveja, espetinho, sair para a rua e ganhar algum dinheiro, infelizmente vai se decepcionar. A FIFA não permitiria isso”, conclui.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Confraternização e debate marcam mutirão por direitos na Avenida Tronco

É verdade que o dia ensolarado e nem tão frio também ajudou para que o domingo (18/8) fosse bastante movimentado na Avenida Tronco, Zona Sul de Porto Alegre. Mas o fator determinante para que o mutirão fosse tão legal foi a participação da comunidade.

A avenida Tronco esteve movimentada o dia inteiro. Durante a manhã, as oficinas espalhadas por locais-símbolo da comunidade mobilizaram dezenas. As atividades culturais e lúdicas, como a  do hip-hop, chamaram a atenção principalmente dos jovens e as crianças. Já os adultos se concentraram nos debates, entre eles a oficina de direitos humanos e violência policial.

À tarde, a Cambada de Teatro Levanta Favela tirou as pessoas de casa com a peça Futebol, nossa Paixão, em que contrapõe, de forma divertida e colorida, a dita paixão cultural do brasileiro pelo futebol à pobreza, miséria, à falta de investimento em saúde e educação públicas em detrimento às obras farônicas da Copa,  aos despejos e violações de direitos que os governos vêm cometendo em nome do megaevento. Como já é de costume, a peça chamou as pessoas a participarem da assembleia popular e, depois, dos shows culturais, com bandas inclusive da região.

Veja alguns momentos bacanas do mutirão por direitos:



Na Vila Cristal, rolou a oficina do Central Social RS com Ricardo Sória, o Doido Pelota, com as Pick-Ups, mixer, vinis, a energia vindo da casa da Kátia na esquina da Rua Jaguari com a Avenida Divisa e muitas crianças.
Crédito: Leandro Anton/ Quilombo do Sopapo





Advogado popular Jacques Alfonsín, na oficina sobre violação dos direitos humanos, realizada em ema escola da região. Crédito da foto: Fernando Campos

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

DIA 18 DE AGOSTO É DIA DE MUTIRÃO POR DIREITOS!

O Bloco de Lutas, o Comitê Popular da Copa e a Comunidade da Av.Tronco convidam para o MUTIRÃO POR DIREITOS!!!

 


Um mês e meio depois do protesto na vila cruzeiro a Av. tronco será tomada pela cidadania novamente! Dia 18 é dia de cultura e resistência por toda a comunidade! Onde Fortunati quer remoções, carrocracia e racismo, vamos todos construir o poder popular! Com muitas oficinas, debates, teatro e música reivindicaremos os direitos da comunidade!

As atividades das oficinas começam a partir das 9hs da manhã, com oficinas por toda a extensão da avenida serão muitas atividades bacanas. Às 15hs tem início a apresentaçaõ do Grupo de Teatro em Ação Direta Levanta Favela com a peça: Futebol nossa Paixão, para falar de politica, futebol e religião, chamando para a Assembléia Popular que ocorrerá logo em seguida, às 16h30min.

E ainda no final do dia, apresentação de bandas e confraternização com a comunidade!

Oficinas confirmadas:
- Grafite - com o Trampo.
- Carron e partitura analógica
- Assistência técnica em habitação
- Teatro de bonecos
- Meio Ambiente, composteira e resíduos
- Direitos Humanos, violencia policial e juventude negra
- Projeto Cinturão Verde
- Capoeira
- Câmera fotográfica de lata
- Atividade com as crianças
- Stencil

Bandas confirmadas:
- Sintomas Clã
- Front LR
- Zamba Ben
- Os besouros

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Será que sai mesmo? Do JC: Comerciantes da Vila Tronco serão instalados em dois camelódromos

Matéria publicada na edição impressa do Jornal do Comércio de 8 de Agosto


Comerciantes da Vila Tronco serão instalados em dois camelódromos

Dos 136 negócios que terão de deixar a área, 52 já optaram por receber indenizações 

Rafael Vigna
SECOPA/DIVULGAÇÃO/JC
Uma das opções prevê a construção de 72 unidades de 15 metros quadrados ao longo da Moab Caldas
Uma das opções prevê a construção de 72 unidades de 15 metros quadrados ao longo da Moab Caldas

Uma das intervenções mais complexas realizadas em Porto Alegre com vistas à preparação da cidade para receber a Copa do Mundo no ano que vem prevê a remoção de 1,5 mil famílias que vivem nas proximidades da avenida Tronco (Moab Caldas). Criar as condições para a duplicação dos 5,3 km da via, que também contempla a abertura de um corredor de Bus Rapid Transit (BRT), se tornou uma dor de cabeça para a administração municipal.

Até o momento, 350 famílias optaram pelo bônus moradia (R$ 52 mil para compra de uma nova casa), foram pagas 30 indenizações (acima de R$ 50 mil) e 60 unidades habitacionais ingressaram no sistema de aluguel social (que disponibiliza cerca de R$ 500,00 mensais enquanto não forem concluídos dois empreendimentos do Minha Casa Minha Vida, em área próxima à rua Silveiro). Além disso, existem 400 processos em aberto, o que totaliza 840 encaminhamentos e deixa um passivo de 685 reassentamentos.

No entanto, a chamada Grande Cruzeiro abarca um conglomerado de 22 vilas. Sete delas (Cristal, Cruzeiro, Figueira, Mariano de Matos, Maria, Silva Paes e Tronco) são atingidas diretamente pelas obras em andamento. Na região, conforme explica o secretário adjunto do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Marcos Botelho, ao longo dos anos se desenvolveram muitas atividades comerciais na área. Lancherias, mercearias, ferragens, pequenos depósitos de material de construção, borracharias, marcenarias e salões de beleza podem ser facilmente avistados às margens da avenida. Ao todo, segundo dados de um estudo socioeconômico encomendado à empresa Encorpe, 136 estabelecimentos comerciais terão de ser removidos para a conclusão do trecho.

Do total, segundo levantamento do Demhab, com data de 17 de julho, 52 optaram por receber a indenização, restando 84 estabelecimentos comerciais ainda sem destino certo. Por isso, os pequenos comércios afetados pelas melhorias planejadas estão no foco das atenções do poder público municipal. Dois projetos de Centro Populares de Compras, ainda em fase preliminar, estão em debate nos mais diversos órgãos municipais. A meta é disponibilizar todos os espaços para realojar os estabelecimentos comerciais da região.

Conforme o presidente da entidade Tronco Postão e coordenador-geral da Comissão de Habitação da Grande Cruzeiro, Michael dos Santos, os camelódromos são uma demanda da própria comunidade e que foram acatados durante audiência pública realizada em novembro. Pelo documento, a Secretaria Extraordinária da Copa (Secopa) se compromete em encaminhar as discussões nas esferas institucionais. Da reunião, nasceu o primeiro projeto preliminar, de autoria do arquiteto Ernani Borges. A planta, que considera uma área de esquina da Moab Caldas com a rua Dona Malvina, contempla três andares com 72 lojas de 15 metros quadrados cada, além de sete lojas-âncoras com 100 metros quadrados e estacionamentos em desnível para 48 veículos.


Anexo comercial ao terminal de BRT previsto para o bairro Cristal está em análise 

Outra opção para reassentar os 84 estabelecimentos comerciais está em fase de análise na Secretaria Municipal de Gestão. A ideia é incluir o projeto de um anexo ao Terminal de Integração Cristal - previsto para organizar o fluxo de ônibus e BRTs ao longo de 4,7 km que separam as avenidas Padre Cacique e Salgado Filho.

A área que fica atrás do BarraShoppingSul e do Jockey Club, na confluência das avenidas Chuí e Icaraí, está inserida em um conjunto de melhorias na zona Sul da Capital, que dispõe de recursos na ordem de R$ 119 milhões. As intervenções previstas também envolvem a duplicação das avenidas Beira-Rio (Edvaldo Pereira Paiva) e Padre Cacique. Por isso, conforme explica o engenheiro e coordenador técnico das Obras da Copa pela Secretaria Municipal de Gestão, Rogério Baú, as unidades comerciais têm de ser pensadas de maneira a aproveitar as novas condições de mobilidade urbana da região.

“Estamos avaliando as demandas, e o principal aspecto deve ser a criação de uma interface dentro da própria estação que não prejudique áreas de manobra do sistema BRT. Isso envolve um esforço coletivo de técnicos da EPTC e Smov. Temos também de considerar os recursos disponíveis para o Terminal de Integração e avaliar o produto arquitetônico que permita o melhor aproveitamento daquele espaço”, comenta.

Entretanto, o terminal ainda não foi licitado. A previsão é de que o edital seja lançado apenas em dezembro.  Por isso, o presidente da Associação de Moradores da Vila Tronco (Amovtron), Paulo Jorge de Cardoso, afirma que nenhuma das duas opções deve estar disponível antes de 2016. Segundo o líder comunitário, a opção de camelódromo ao longo da avenida Tronco atende melhor às demandas da região. “Gostaria de ver as duas opções juntas, pois isso melhoraria muito o perfil socioeconômico da região”, considera.


Perfil dos estabelecimentos pode atrapalhar plano de realojamento

O presidente da entidade Tronco Postão e coordenador-geral da Comissão de Habitação da Grande Cruzeiro, Michael dos Santos, identifica um empecilho para o remanejamento dos espaços comerciais instalados na região. Isso porque boa parte dos estabelecimentos está distante do ramo alimentício e de confecções, que se enquadrariam melhor dentro das propostas em análise. “Não se pode transferir uma borracharia ou uma ferragem para um camelódromo”, sentencia.

A opinião é compartilhada pelo secretário adjunto do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Marcos Botelho, que ainda confia em um número maior de resoluções via indenização. Se somadas às moradias, já foram disponibilizados R$ 5,5 milhões para as desapropriações.

No caso dos estabelecimentos comerciais, as avaliações podem variar entre R$ 10 mil e cerca de R$ 150 mil. Uma licitação realizada em agosto de 2012 foi vencida pela P4B Global. A  empresa foi designada para elaborar 650 laudos, a R$ 324,00 cada. Conforme Botelho, o valor leva em conta o estado de conservação das benfeitorias - como piso, pintura, estrutura e azulejos - e o ponto comercial. “Assim, um estabelecimento do Cristal será mais bem remunerado do que um da Vila Cruzeiro. Isso mesmo naqueles casos de comércios em áreas irregulares”, exemplifica.

A avaliação, de acordo com Santos, não considera o faturamento mensal de estabelecimentos comerciais. Além disso, o líder comunitário critica a morosidade dos laudos que podem levar mais de 60 dias para serem emitidos.



Copa das Confederações não eleva gasto de estrangeiros no Brasil

Visto como grande legado dos megaeventos, o turismo durante a Copa das Confederações não trouxe aumento de receitas para o país:

http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/07/copa-das-confederacoes-nao-eleva-gasto-de-estrangeiros-no-brasil.html

Nota Pública do Comitê Popular da Copa RJ: Por um Maracanã Público e Popular


Nota Pública: Por um Maracanã Público e Popular


A vitória final ainda está por vir: por um Maracanã Público e Popular


O momento é de comemoração. Após mais de dois anos de luta contra o custo das reformas, a elitização, a privatização, as ilegalidades do processo e as demolições previstas para o Complexo do Maracanã, as vitórias começam a aparecer.

A permanência do Parque Aquático Julio Delamare, do Estádio de Atletismo Célio de Barros e da Escola Friedenreich, bem como a retomada da Aldeia Maracanã por indígenas que defendem aquele espaço desde 2006 são resultados do esforço e da valentia de muitas pessoas e grupos que foram às ruas e lutaram por direitos e por uma cidade mais justa. Estamos todos em comemoração!

Mas é preciso lembrar: temos que seguir atentos e fortes. O momento é ainda de muita luta. A reação do consorcio Maracanã S/A, que soltou nota afirmando que “permanece à frente da concessão do Maracanã e que vai encontrar uma alternativa à sua viabilização e continuidade”, é uma afronta ao sentimento de todos os brasileiros que questionam o absurdo contrato de privatização.

O Maracanã, que nunca deixou de ser um símbolo nacional em função do futebol e da participação popular, nos últimos tempos serviu como modelo máximo de uma política excludente, sem transparência e corrupta. As seguidas reformas, que consumiram quase dois bilhões de reais, e sua venda por migalhas (o consórcio pagaria R$ 5,5 milhões por ano ao governo para lucrar por 35 anos com o estádio) não passaram despercebidos, como talvez imaginassem o governador Sérgio Cabral e o secretário da Casa Civil Régis Fichtner.

Também não passaram despercebidas as ilegalidades do processo de privatização, que é questionado na Justiça. Os casos se acumulam: o favorecimento à empresa IMX, de Eike Batista, que preparou o edital de concessão no qual ela mesmo concorreu e ganhou; a farsa da “audiência pública” em novembro de 2012; e o valor pago, que não recupera nem 15% do que foi investido em reformas. A população está atenta e cobra um Complexo do Maracanã público e popular.

Não podemos entender as últimas notícias como a devolução definitiva do Complexo do Maracanã para o povo. O governo do estado foi forçado pelas ruas a abrir mão das demolições, mas ainda se esquiva da anulação da privatização. E, naturalmente, os empresários que se pensam donos de todo aquele espaço vão seguir uma administração que tem somente a perspectiva de fazer altos lucros.

É fundamental a manutenção do pleno uso público do Complexo do Maracanã. Não basta a não-demolição do Julio Delamare e do Célio de Barros, queremos um parque aquático e um estádio de atletismo que sirvam exclusivamente ao esporte, à saúde, ao bem-estar e à educação da população, com o fortalecimento de projetos sociais que atendam a pessoas de todas as faixas etárias. Não podemos deixar que o governo e os empresários tenham a audácia de querer transformá-los em clubes exclusivos e pagos.

Não basta a não-demolição da Friedenreich: a prefeitura deve manter os altos padrões de ensino ali realizados pelos professores e gestores e ouvir as demandas de todo o corpo de funcionários e dos pais de alunos que bravamente defenderam a escola. O mesmo serve para a Aldeia Maracanã, onde as decisões e soluções para o espaço devem ser feitas atendendo aos grupos indígenas que ali formaram uma das histórias mais valentes de resistência e convivência cultural que a cidade já viu.

Não basta, ainda, um ginásio do Maracanãzinho que seja transformado em uma casa de espetáculos de luxo. Sua função é fundamentalmente esportiva, com o treinamento de atletas de alto rendimento e de projetos sociais de inclusão através do esporte, servindo também a eventos de caráter público.

Exigimos a assimilação do Complexo do Maracanã como uma das principais áreas públicas da cidade. Exigimos que o governo entenda que este é um espaço que deve servir prioritariamente ao esporte, à saúde, à cultura, à educação, ao lazer e ao bem-estar do povo carioca. Exigimos que o complexo seja compreendido de forma integrada com os equipamentos públicos e privados do entorno, como a UERJ, a Quinta da Boa Vista, o Museu Nacional, as quadras das escolas de samba, o estádio de São Januário, a Feira de São Cristóvão e o Parque Glaziou, cuja instalação ao lado do Maracanã deve ser retomada pelo governo.

Exigimos, por fim, que o histórico Estádio Mario Filho, após ser descaracterizado de forma criminosa, possa receber novamente todo torcedor brasileiro, independente de poder aquisitivo ou classe social. A magia do estádio do Maracanã, legado de inúmeras gerações que pisaram naquele lugar, só poderá ser resgatada se ele for novamente entregue à população, com a reativação de amplos setores populares que devem ter preços acessíveis fixados de acordo com o salário mínimo, além de cadeiras removíveis, como forma de ampliar a capacidade do estádio e permitir as manifestações festivas e as coreografias que sempre caracterizaram os jogos no Maracanã.

A não assimilação destas demandas populares é a sinalização de que a mobilização pelo Maracanã deve continuar com força máxima. A rua é nosso lugar e de lá não sairemos até a vitória completa. Governo do estado, Odebrecht, IMX e AEG devem ter consciência disso.

Pela anulação imediata da privatização do Maracanã!
Por um Maraca Público e Popular!
O MARACA É NOSSO!!

Rio de Janeiro, 7 de agosto de 2013.

Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro

RJ: Vila Autódromo Vive!


NOTA PÚBLICA

VILA AUTÓDROMO CONQUISTA SUA PERMANÊNCIA!

Após anos de resistência e luta, a Vila Autódromo conquistou o compromisso do prefeito: a Vila Autódromo e seus moradores não serão removidos.

A Associação de Moradores da Vila Autódromo se reuniu com o Prefeito Eduardo Paes nesta sexta-feira, 09 de agosto de 2013. A reunião contou com a presença dos secretários municipais de meio ambiente e habitação, do Subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, de representante da Empresa Olímpica Municipal e da Procuradoria Geral do Município. À convite da comunidade, participaram a Defensoria Pública do Estado, as duas universidades federais (IPPUR/UFRJ e NEPHU/UFF) que assessoraram os moradores na elaboração do Plano Popular e a Pastoral das Favelas.

O prefeito reconheceu que houve equívocos no tratamento à comunidade e afirmou que está disposto a abrir uma rodada de negociações baseada na permanência da Vila Autódromo e sua urbanização. Os eventuais casos de reassentamento poderão ser feitos na própria área, caso o morador assim o deseje. O prefeito apresentou também como opções para os casos de reassentamento o apartamento no Parque Carioca ou indenização a preço de mercado.

Para dar continuidade ao processo, foi constituído grupo para a negociação que contará com técnicos da prefeitura, representantes dos moradores e sua assessoria técnica. As decisões serão também submetidas a assembleias dos moradores. A comunidade afirmou que a base para o projeto de urbanização e regularização deverá ser o Plano Popular.  A Vila Autódromo continua na luta pelo direito à moradia, junto com outras comunidades ameaçadas de remoção.

Viva a Vila Autódromo! A Vila Autódromo Vive!
Associação de Moradores, Pescadores e Amigos da Vila Autódromo

Pesquisa mostra que brasileiro fica descrente com Copa

Por Erich Beting

Os protestos que eclodiram pelo Brasil às vésperas do início da Copa das Confederações, em junho passado, tiveram um impacto direto na imagem do torneio e da Copa do Mundo na mente do brasileiro. A conclusão, que se antes era perceptível pelas conversas no dia a dia, agora está em números.

Na próxima semana a empresa de informação e pesquisa Nielsen vai divulgar um relatório sobre a relação dos consumidores com a Copa das Confederações e os patrocinadores do evento. O blog obteve em primeira mão alguns dos resultados desse levantamento. 
Os resultados são alarmantes para as empresas que pretendem trabalhar sua comunicação para o Mundial de 2014.

A pesquisa foi rodada em julho, após o término do torneio e com o Brasil campeão, nas seis cidades-sedes da Copa das Confederações (Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador) e também na cidade de São Paulo, a maior do país. Ao todo foram ouvidas 1.420 pessoas, que falaram sobre o apoio ao evento e às marcas, os hábitos durante a realização dos jogos e o que se lembravam das ações das empresas ligadas ao torneio.


De acordo com a Nielsen, a batata da Fifa assou. E, mais ainda, dos seus patrocinadores.

Na comparação com setembro de 2012, quando a mesma pesquisa foi feita, o brasileiro ficou muito mais desinteressado em relação ao evento e, pior, mais insatisfeito.


Em 2012, 71% das pessoas apoiavam a realização da Copa das Confederações. Após o torneio, o índice caiu para 45%. Pior ainda foi a sensação da relação custo-benefício em organizar a competição. Sendo o “Padrão Fifa” uma das bandeiras levantadas durante os protestos, naturalmente o brasileiro sentiu que o custo de realizar o evento seria muito alto. Se, em setembro do ano passado apenas 33% da população achava que a relação custo-benefício seria ruim, a percepção depois que a competição passou foi ainda pior.
 Para 61% dos entrevistados, o dinheiro empregado para fazer o torneio não valeu a pena.

A queda mais acentuada no otimismo do brasileiro em relação à Copa do Mundo, porém, se deu naquilo que é o mais atraente para o mercado ao se associar a competição: o engajamento do torcedor com as marcas patrocinadoras. Para o consumidor, esse foi o item que mais mudança aconteceu.

Em setembro de 2012, 67% dos entrevistados diziam que apoiavam as marcas patrocinadoras da Fifa. Em julho de 2013, já sob efeito dos protestos, o índice caiu para alarmantes 32%. Sim, é isso mesmo! Se, antes de o primeiro evento-teste da Fifa ser realizado,  dois terços da população estavam ao lado das marcas patrocinadoras, agora o índice caiu pela metade.


Pior ainda é a associação direta – e negativa – que as pessoas começam a fazer entre a marca e o evento. Em 2012, apenas 3% dos entrevistados achavam que era ruim uma empresa apoiar a Copa. Em julho último, este índice saltou para 22%. Isso traz outro impacto direto que foi medido pela Nielsen. Diminuiu também a vontade de comprar produtos dos patrocinadores oficiais da competição. Em 2012 o índice era de 58% e, agora, é de 31%.


A ida do brasileiro às ruas deixou diversos pontos de interrogação na cabeça de todos. Está claro que temos diversas reivindicações a serem feitas, cada qual com seu sentimento isolado. Se, antes de a Copa das Confederações começar, o alvo foi o aumento nas tarifas de transporte público, agora já são diversos e distintos motivos que levam o brasileiro a reclamar.


O grande ponto que se coloca é o que vai acontecer dentro de um cenário de Copa do Mundo, em que geralmente a cobertura da mídia é muito maior e o estardalhaço feito contra os gastos ligados à competição também.


Nesse último mês desde o término da Copa das Confederações, as marcas começaram a trabalhar o planejamento para 2014. O grande ponto de interrogação é saber qual será o comportamento do brasileiro em relação à Copa, à Fifa, etc. Pela pesquisa da Nielsen já dá para saber que há um problema pela frente, que é fazer o torcedor querer a marca mesmo com toda a situação que se apresenta no país.


Nesse sentido, a própria realização da Copa das Confederações como um evento-teste ajudou. Se, antes de o torneio começar, a preocupação era com o time brasileiro, e não com o país, agora os papéis se inverteram. Ficou claro que, dentro de campo, o torcedor comprou a seleção. A chave é trabalhar isso daqui até 12 de junho de 2014.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Portal Sul 21: Boa parte da Porto Alegre de 2014 só aparecerá depois da Copa do Mundo

Por Ramiro Furquim/Sul21
A maioria das obras da Copa do Mundo na cidade só ficará pronta após o término da competição; Prefeitura busca assegurar recursos para não perder melhorias | Por Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller
Previstas, em um primeiro momento, para serem finalizadas até junho do próximo ano, boa parte das obras para a Copa do Mundo de 2014 só ficará pronta após a realização do Mundial. Com dificuldades na realização de diversas transformações urbanas, a Prefeitura de Porto Alegre passou a buscar outra forma de garantia: a da manutenção dos recursos do governo federal para que as obras possam ser inauguradas mesmo após a competição.
No dia 12 de junho, exatamente um ano antes do início da competição, a Prefeitura de Porto Alegre realizou um tour para apresentar o andamento das modificações na cidade para a imprensa. À frente, esteve o prefeito José Fortunati (PDT), que se mostrou confiante com a adequação de grande parte das obras para a primeira quinzena de junho do próximo ano. Como ressalva, já havia sinalizado o atraso na construção das moradias para as famílias removidas da Vila Cruzeiro, que não começaram a ser erguidas mesmo 50 dias após a visita.
Em entrevista ao Sul21, o secretário de Gestão da Prefeitura de Porto Alegre, Urbano Schmitt, comentou sobre a situação de distintas obras – como a criação do sistema dos ônibus BRT’s (Bus Rapid Transit), o atual estágio das remoções e da duplicação da Avenida Tronco e as alterações nos acessos ao Estádio Beira-Rio, sede da Copa do Mundo. Além disso, Porto Alegre deve receber modificações em vias do Centro da cidade, que buscam conter antigos transtornos no tráfego de veículos.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O sistema de ônibus BRT só deve operar após a Copa do Mundo; atrasos também ocorrem na Avenida Tronco e Plínio Brasil Milano | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Porto Alegre busca recursos do PAC Mobilidade Urbana para garantir obras na cidade mesmo após o início da Copa
Com o atraso nas obras da Avenida Tronco, dos BRT’s e do viaduto da Avenida Plínio Brasil Milano, entre outras, a Prefeitura buscou readequar a forma de financiamento com o governo federal. “O governo federal propiciou os financiamentos, permitiu que o município tomasse recursos emprestados de forma mais adequada. Agora estamos dentro do chamado PAC Mobilidade, o que assegura os recursos mesmo após a Copa do Mundo”, afirmou Urbano Schmitt.
No portal do programa do governo federal, já constam três obras relativas ao sistema BRT – nas avenidas Bento Gonçalves, João Pessoa e Protásio Alves, com os respectivos terminais Antônio de Carvalho, Azenha e Manoel Elias. Segundo Urbano Schmitt, “os BRTs estão se projetando em sequência. O primeiro passo foi a licitação dos corredores de ônibus e da pavimentação, que é um trabalho lento e com impacto na mobilidade”.
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
No entorno do Beira-Rio, estádio que sedia a Copa em Porto Alegre, as modificações devem ser finalizadas até junho | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
O próximo processo, para o secretário, deve ser a finalização dos projetos de estações e terminais – que não devem estar prontos até o começo da Copa do Mundo. Para Schimitt, “a substituição das placas de concreto e da pavimentação dos corredores, quando terminados, já nos ajudam muito no contexto da mobilidade urbana”, relativizou. Segundo o secretário, “outras cidades também optaram por essa forma (de financiamento). Porto Alegre era a cidade que tinha o maior número de obras previstas para a mobilidade urbana, mas situações semelhantes ocorreram em São Paulo e outros lugares, com a adequação ao PAC Mobilidade”.
A Prefeitura garante que os novos prazos e condições não devem alterar o custo inicial dessas obras – e afirma que, se houvesse a necessidade de completar as duplicações, construções de viadutos e mudanças nas vias antes do Mundial, então provavelmente o valor das obras aumentaria em relação ao prognóstico inicial. “Se essas obras precisassem ser agilizadas agora, com trabalho à noite em alguns locais, deveriam aumentar os custos. Tendo migrado para o PAC Mobilidade, isso não vai acontecer”, declarou Urbano.
Prioridade é o entorno do Estádio Beira-Rio; situação dos moradores da Avenida Tronco permanece indefinida
Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Urbano Schmitt sobre a situação na Vila Cruzeiro: “na Avenida Tronco a questão social está acima da questão da engenharia” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ainda que Porto Alegre tenha diversas obras inacabadas em 2014, a Prefeitura aposta na finalização dos projetos próximos ao Estádio Beira-Rio para garantir o acesso do público aos jogos. A duplicação da Avenida Beira-Rio e a construção do viaduto Pinheiro Borba, além da reforma do próprio estádio, que ganha nova cobertura, devem estar concluídas até o próximo mês de junho. No Centro da cidade, o viaduto da Avenida Júlio de Castilhos, segundo o Executivo municipal, também ficará pronto.
Na Zona Sul de Porto Alegre, no entanto, o ponto mais sensível das transformações urbanas da cidade segue sem garantias imediatas para a população diretamente envolvida. A duplicação da Avenida Tronco, na Vila Cruzeiro, prevê a remoção de 1.500 famílias do bairro e, na semana passada, a reportagem do Sul21 relatou que menos de um terço dos moradores tiveram a situação definida até o momento.
Da mesma maneira com que as famílias que optaram pelo aluguel social não devem ter as novas moradias prontas até junho de 2014, a duplicação da avenida tampouco deverá ser concluída para o Mundial. Para Urbano Schmitt, “na Avenida Tronco a questão social está acima da questão da engenharia, e é preciso considerar isso”. Para o secretário, a Prefeitura demorou a encontrar empresas interessadas na construção das novas moradias, o que só ocorreu há poucos dias. Ainda assim, o município “nesta fase depende da Caixa Econômica Federal, sendo impossível estipular um prazo” para as casas saírem do papel.