terça-feira, 26 de abril de 2011

Os segredos do PAC da Copa - A Especulação e a Bolha - Capítulo 2


Tania Jamardo Faillace - jornalista e delegada RP1

Em 2008, o famoso estouro da “Bolha Hipotecária” norteamericana, vocês lembram, se espalhou pelo mundo, até a Europa e a Austrália, quebrando bancos, seguradoras e investidores, fazendo trabalhadores perderem seus empregos e suas casas, e quebrando a economia daquele país... e de outros.

A globalização é justamente isto: as atividades econômicas e comerciais do mundo ficam tão ligadas umas com as outras, que se espirra aqui, e se pede um lenço lá.

A ALCA foi uma primeira proposta. Os países ricos queriam que os “emergentes”, como o Brasil, a Índia e outros, abrissem seus mercados para o mundo, ao invés de protegerem a produção e os trabalhadores de seu próprio país. A ALCA não saiu como eles queriam, porque os “emergentes” latino-americanos resistiram, mas, aos pouquinhos, foram feitos acordos de livre comércio aqui e ali. Hoje a China nos enche de tantos produtos baratos (usam mão de obra escrava) que as empresas brasileiras estão quebrando e desempregando porque não agüentam a concorrência.

Quando abrimos nosso mercado para o mundo sem nos proteger, qualquer um nos derruba com uma pena, e sofremos, por tabela, o que acontece no mundo inteiro. Imagine-se o que acontece, quando nos abrimos para as negociatas financeiras e construtivas, que mexem com muito e muito dinheiro. Quando chega a “hora da verdade”, não há salvação: a ruína é geral. E quem sofre mais, são os que menos têm.

Em 2008, o que foi que aconteceu?  Bancos, empreiteiras e seguradoras norteamericanas se juntaram num grande conto-do-vigário: ofereciam empréstimos baratíssimos para a casa própria, sem precisar comprovar renda, nem dar entrada, nem nada. Era só ir lá, e pedir o dinheiro necessário para qualquer um comprar uma casa de luxo para pagar depois.

Como é que os vivaldinos ganhavam dinheiro com isso? Dizendo que as cartas de crédito e hipotecas eram muito seguras e garantidas, e passando elas adiante. Foram assim e cobriram o mundo, dos Estados Unidos para a Europa, a Austrália, etc.

Um dia, a casa caiu

Quem comprou esses documentos (títulos de crédito) pensando que teria sempre um bom rendimento, e quando precisasse, poderia pedir o pagamento total, teve uma grande surpresa! Todos os documentos eram “podres”, e não havia dinheiro algum na outra ponta! Foi uma quebradeira geral, que vocês devem ter lido nos jornais de 2008.

O Brasil ficou de fora? Não foi bem assim, mas o Brasil não entrou como um patinho, feito os outros, por causa de uma política econômica muito rigorosa, que estávamos seguindo.

Apesar disso... estava sendo montado aos poucos nosso próprio carnaval imobiliário: excesso de construções inúteis, de baixo custo de construção e alto preço de venda (edifícios de luxo com paredes de isopor, gesso e papelão, ao invés de tijolos, e vidros, que são muito mais baratos e exigem muito menos mão de obra operária).

Por quê? Os ricos do Brasil, coitadinhos, estavam morando nas ruas e debaixo das pontes?

Não, quem precisa de casa no Brasil são os trabalhadores de baixa renda. Mas esses não dão os lucros desejados, nem conseguem entrar nesses negócios complicados com financiadores, bancos e seguradoras. Então, a baixa renda não interessa aos construtores.

Assim, aos poucos, se está fazendo o mesmo que se fez nos Estados Unidos: construindo demais por preços exagerados, fazendo cair os preços dos imóveis com mais de 5 anos, para levar as pessoas a comprar outros, e oferecendo vantagens maravilhosas para o cidadão comprar a super-cobertura de seus sonhos, mesmo sem poupança ou sem garantias.

Claro que, aqui, a Caixa Econômica não é um daqueles bancos malandros dos Estados Unidos: se o cidadão não tem garantias nem renda suficiente, não leva o financiamento. E aí, que faz a construtora? Pega o imóvel de volta e o vende de novo para outro “trouxa”. O primeiro “trouxa”, que já tinha pago a entrada ou parte dela, recebe o quê de volta? Dez por cento do que pagou. E fica no prejuízo, sem que os construtores sejam denunciados por fraude e vão para a cadeia. Isso já está acontecendo em Porto Alegre.

Para completar a receita, as empresas estrangeiras - aquelas da Bolha e outras - estão aqui, em nossa cidade, associadas com empresas locais, prontas para fazerem das suas. E, claro, pegarem os melhores terrenos, expulsando os baixa-renda, e mesmo os média-renda.

Desde 2007, governo Fogaça, as empresas tradicionais da construção se juntaram com as estrangeiras e as paulistas, como a Rossi, e a OAS, que estão tomando conta da zona Norte, e também pretendem tomar conta da Zona Sul, junto com a Maiojama, que pertence à RBS. Essa a razão de seu poder de pressão junto aos políticos: tem jornais e TVs para dar apoio político a quem ficar de seu lado.

Já a Goldsztein foi mais ou menos engolida pela estrangeira Cyrella. A Melnick, outra empresa local se juntou com a Even paulista. Outra construtora tradicional, a Ivo Rizzo, também entrou nas bolsas norteamericanas para captar dinheiro e abrir sociedade, assim como a Rossi e a Tecnisa. No total, 70% do capital das empresas construtoras presentes em nosso pedaço, é de origem estrangeira.

De 2006 a 2007, a aplicação dos gringos em nossa construção aumentou 15 vezes. Já estavam querendo calçar-se por aqui, quando sabiam que lá, o negócio estava para estourar. Dessa data até final de 2007, entraram 9 bilhões no setor.

Segundo notícia do Jornal do Comércio de novembro de 2007, a Itaplan Imóveis iniciava uma estratégia de expansão de negócios no RS. Algumas delas pensaram até em investir em casas populares, mas chegaram à conclusão de que o grande negócio está no mercado da segunda residência, isto é, após adquirir a casa própria, o cliente  com melhores condições financeiras quer outras casas e imóveis.

Que significa tudo isso? Que Porto Alegre é a bola da vez.

O governo municipal se aliou com essa política. Por isso, pouco lhe interessam o planejamento e desenvolvimento inteligente e racional dos bairros: quer grandes investimentos, que gerem muito dinheiro e possibilite troca de favores. Habitação popular decente em bairros desenvolvidos e bem equipados, preservação do meio ambiente - águas, vegetação e solo - são reivindicações que “atrapalham a construção”, como bem falou o Ministério das Cidades no seminário de 2008.

Em cima dessa corrida pelos lucros, o PAC da Copa caiu como uma cereja no bolo. Além de negócios facilitados, terrenos adquiridos por baixo preço e mediante truques, e compradores iludidos,  mais a isenção total de impostos por vários anos!

Qual o vivaldino que resistiria a uma tentação dessas?

Esse é o quadro geral da área imobiliária em Porto Alegre dentro do PAC da Copa. Aguardem os próximos capítulos, e saberão mais.

OBS.: Nas imagens acima, vemos algumas das propostas para alterar a cara de Porto Alegre, e dar muito lucro aos empreiteiros e empresas de publicidade e investimento. É bom lembrar que essas obras, com exceção da Arena do Grêmio, que está em construção, apesar de não dispor de uma escritura "quente", estão apenas nas cabeças das pessoas. Não existem nem como projeto de engenharia na Prefeitura. Mas já estão sendo vendidas.

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